12 de fev. de 2016

"Minha mãe não sabe brincar".

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Há alguns meses atendendo uma criança, eis que num atendimento apenas com a mãe, ela relata: 

- "Eu não sei ser assim, como você, com esse jeito todo com as crianças. Você aparece na porta e os olhos dele brilham... Eu sou mãe, mas não tenho jeito com crianças". 

Ela é professora de educação infantil, mãe de duas crianças, já foi criança um dia e agora travava uma batalha interna entre como sabia ser e talvez como fizeram-na acreditar que deveria cusar de crianças, principalmente as suas. Isso deve machucar bastante. Então, tive uma ideia que poderia, certamente, beneficiar a criança atendida pois aliviaria a mãe. Combinei que se a criança aceitasse, na próxima sessão, ela participaria e brincaríamos juntos. 

Na semana seguinte, entrei na sala com o paciente e a sessão acontecia naturalmente, quando iniciei: 

- Ah, eu tive uma ideia! Que tal se convidarmos a mamãe para brincar com a gente? 
- Não. Não quero.
- Tá certo, mas o que você pensa sobre isso? 
- Não. Aqui é só eu e você. 
- Sim, é verdade. Aqui é o seu espaço comigo. Mas será que hoje a mamãe poderia brincar com a gente? 
- A mamãe não sabe brincar. 
- Ah não? E se nós ajudássemos? Aí ela pode aprender. Se você não gostar, é só dizer, e então, ficaremos só nós dois.
- Tá bom. Vamos chamar a mamãe. 

E a mamãe entrou, meio tímida, mas sorriu, observou, mexeu nos bonequinhos, usou alguns e enfim, brincou. Brincamos. A criança conduziu, participou bem e não pediu para a mãe sair. Não há uma regra, mas neste caso houve uma necessidade de integrar a mãe e a criança em suas subjetividades. Porque saber brincar tem a ver com disponibilidade afetiva e confiança, antes de tudo, em si mesmo.

Mayara Almeida
Psicóloga - CRP 13/5938


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