12 de jan. de 2016
O acolhimento dos pais no atendimento infantil
Mesmo antes de a criança vir ao mundo ela já se
constitui como objeto dos ideais dos pais, especialmente da mãe. Nascida, na
medida em que vai crescendo, ela vai se tornando a concretização desses ideais
e aí todos os acertos e falhas são possíveis. A luta do filho será a de
concretizar seus próprios desejos, conciliando-os com os desejos dos pais ou
deles se libertando.
Não compete ao analista o processo de educação dos filhos. O analista se absterá de dar orientação, conselho, pois isso além de criar uma relação de dependência dos pais, é frontalmente contrário à regra de abstenção e perfeitamente dispensável uma vez que os pais interessados são suficientes para dar conta do processo.
Os pais nos procuram com muita ansiedade. Há todos
os tipos de sentimento e apreensões ao procurar um psicanalista. Muitos pais
nos procuram por vez primeira, mas muitos outros já vêm desanimados, armados de
defesas e mesmo revoltados de tantas tentativas de cura.
É preciso descontrair os pais, pois temos que partir do princípio que é impossível saber o que é ser pai, ser mãe. Importa acolher a demanda dos pais e a queixa que formulam. Acolher, mas jamais responder à demanda. O próprio progresso da análise se encarregará de demonstrar que a demanda é demanda de outra coisa. Ela é um sintoma que aflora. Na verdade a demanda é demanda de uma ordenação subjetiva que eles mesmos não conseguem alcançar.
Ao se buscar atendimento para o filho, os pais
podem esperar críticas e acusações, devido ao alto valor dado pela sociedade ao
atendimento infantil e aos cuidados parentais adequados, “culpados
em relação a um dano real ou imaginário causado à criança, mas
também com um sentimento de vergonha em relação ao que expor” (Halton
e Magagna, 1994, p. 117). De acordo com Motta (2008), o psicólogo, exerce
a função de conter angústias, tanto as da criança quanto a dos pais. E
estes, podem, por identificação com o terapeuta, desempenhá-la junto ao
filho. (MOTTA, p. 122).
Contudo, nem todos os pais podem acolher suficientemente os filhos. Por não terem desenvolvido uma condição mental que permita o uso benéfico do processo de orientação, alguns pais necessitam de um espaço psicoterapêutico próprio para lidarem com questões individuais.
Contudo, nem todos os pais podem acolher suficientemente os filhos. Por não terem desenvolvido uma condição mental que permita o uso benéfico do processo de orientação, alguns pais necessitam de um espaço psicoterapêutico próprio para lidarem com questões individuais.
Na visão de Aberastury (1989), o processo de
análise é vivido pela criança como um novo nascimento, a separação inicial dos
pais e a entrada no consultório costumam acompanhar-se das ansiedades
experimentadas ao nascer.
Possibilitar aos pais e aos filhos que o mito das
gerações seja interpretado, rompê-lo graças à nova leitura da intervenção
analítica, pode mudar de imediato o arranjo inconsciente, possibilitando que
certos núcleos patógenos se desarticulem, se dissipem, e novas cadeias se
estruturem num rearranjo que cesse a realimentação patógena. Uma coisa é certa,
a partir do momento que tiradas "ele é nervoso porque toda minha família é
nervosa", "ele faz xixi na cama com 8 anos porque eu também
fiz", " eu vou ter câncer porque as mulheres de minha família morrem
de câncer"., se impõem pela linguagem dos pais, elas selam um passado e
impedem o filho de ser portador de seu próprio desejo no presente.
Descobrir na escuta dos pais quais são os
significantes do mito familiar, quais são os significantes que organizam e
movimentam a família, aqueles que freiam a criança em seu desenvolvimento
psíquico, é uma descoberta preciosa, um tesouro clínico.
Reconhecer a ligação fundamental entre a criança e seus cuidadores fundamentais, procurando delimitar um espaço no qual os pais e a criança possam diferenciar suas questões, imprimindo um cunho singular e único às suas narrativas. (ZORNIG, 2001, p. 126)
Reconhecer a ligação fundamental entre a criança e seus cuidadores fundamentais, procurando delimitar um espaço no qual os pais e a criança possam diferenciar suas questões, imprimindo um cunho singular e único às suas narrativas. (ZORNIG, 2001, p. 126)
Referências
CHECCHINATO, Durval. Psicanálise dos Pais
Vivências: SEI, Maíra Bonafé; VERCEZE, Flávia
Angelo. A psicoterapia de crianças na abordagem Winnicottiana: relato de um
caso. In: Revista Eletrônica de Extensão da URI. ISSN 1809-1636. Vivências.
Vol. 10, N.18: p. 15-24, Maio/2014.
SEI, Maíra Bonafé; SOUSA, Carolina Grespan Pereira; ARRUDA, Sérgio Luiz Saboya. O sintoma da criança e a dinâmica familiar: orientação de pais na psicoterapia infantil. In: Vínculo – Revista do NESME, 2008, v. 2, n. 5, p. 194-205.
SEI, Maíra Bonafé; SOUSA, Carolina Grespan Pereira; ARRUDA, Sérgio Luiz Saboya. O sintoma da criança e a dinâmica familiar: orientação de pais na psicoterapia infantil. In: Vínculo – Revista do NESME, 2008, v. 2, n. 5, p. 194-205.
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