8 de ago. de 2014

As nuvens de Canudos

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              Começa a guerra. Será o fim de Canudos? Pagaram antecipadamente a madeira necessária, mas no dia acertado ela não foi entregue. A cidade será invadida? Disseram que sim. Pânico inicial. Solicitação de tropas policiais. Partiu a expedição contra Canudos. Estratégicos combatentes, vinham mesmo para a guerra. Penso que o desejo, por si só já é uma máquina de realizações, é força tarefa dos acontecimentos, move reações... Cuidado com a bala, cuidado com as foices. E o cuidado com a vida? “Escapa, escapa soldado / Quem tiver perna que corra / Quem quiser ficar que fique / Quem quiser morrer que morra / Há de nascer duas vezes / Quem sair desta gangorra” (João Melchiades Ferreira da Silva). E assim, as surpresas indesejadas, inesperadas, ganharam vontade de potência e se fizeram reais.
            Medo de viver. Será que existia ali? Medo de morrer. Será que se fazia presente? Entregar-se a uma guerra, sugere um misto de limites e sentimentos que desatam alguns nós, e formam outros. Mais e mais pedaços de acontecimentos que nunca puderam chegar a um final benéfico. É como escrever um livro e jogar no fogo as páginas finais. O que de fato aconteceria se houvesse continuação com outro fim? Mudar. Será?
            Parágrafos pequenos, claro, se comparados à quantidade de acontecimentos na época. A Guerra de Canudos durou cerca de um ano, mobilizando 17 estados brasileiros, que traziam mais de 10 mil soldados, em 4 expedições militares. Estima-se que morreram mais de 25 mil pessoas, finalizando com a destruição total da cidade.
            Quais acordos a vida fez com eles, ou eles fizeram acordos com a  vida? E por que reviver em palavras uma guerra que aconteceu em outros tempos? Eu exijo da minha mente uma explicação, e ela vem. Escrevo assim, para falar do que tem por fora, desvendar o que teria por dentro. Dentro dos corações de quem acordava pela manhã sem saber ao certo como seria, pois o incerto já existia. Para dizer que acredito nas nuvens de Canudos, que viram tudo.
            As nuvens no céu demonstram o movimento das decisões, elas movem.  Você pode ver. Você pode perceber. E como eram as nuvens no céu de Canudos? Elas mudaram desde aquela época, ou estamos olhando as mesmas nuvens que receberam tiros para o alto, para baixo, para o meio, para matar? Não sei, mas acredito que são continuações das mesmas. E você, o que acha, como pensa?

          As nuvens estão no alto, acima de nós, acima da guerra, livres dessa imensidão terrena, envoltas numa imensidão suprema. Livres de mim, de você, de querer que a guerra aconteça. E é por isso que nós olhamos para o céu quando queremos pensar alto, pensar profundo. E é por isso que sobrevivem, para mim, o céu, as nuvens de Canudos.

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